Certa vez Tom Jobim cantou: “Vou te contar, os olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender, fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho…”.
Com todo respeito pelo maestro, acho que ele exagerou um pouquinho na última frase. Nela ele condiciona a felicidade a não se estar sozinho, entretanto, a recíproca pode ser igualmente verdadeira, ou seja, uma pessoa que irradia felicidade tem mais chance de ter alguém a seu lado.
Mas, posta esta ressalva, vamos dar um crédito ao Tom e concordar que, quando se tem alguém ao lado, tudo fica mais fácil, mais seguro, mais completo, mais divertido. Só que – e este condicional é importantíssimo – não pode ser qualquer “alguém”, tem de ser um “alguém” a quem se possa, sem medo de errar, chamar de companheiro, ou companheira.
Aliás, este assunto também foi tema da mitologia e da poesia, ou de ambas ao mesmo tempo. Uma das mais belas abordagens é aquela em que um anjo pergunta a Deus por que Ele havia criado os Homens com “aquele defeito”.
– Que defeito? – perguntou o criador, com brandura.
– Bem – disse o anjo –, eu reparei que as pessoas só têm uma asa, e não duas como nós, e sabemos que são necessárias duas para voar. Então parece que eles nasceram defeituosos.
– Acontece, querido anjo – explicou Deus com um sorriso compreensivo –, que cada homem e cada mulher têm, sim, duas asas, só que uma está consigo e a outra está em outra pessoa. Eu os fiz assim para que eles aprendessem a voar em pares e, assim, conseguissem chegar mais alto e também para que conhecessem os verdadeiros valores divinos, como o amor, o sonho e a felicidade. Além disso – continuou –, dessa maneira eles também aprenderão a respeitar e a cuidar uns dos outros. Qualquer pessoa que magoe outra poderá machucar sua outra asa, e assim ficará impedido de voar. Só pelo amor, nunca pelo ódio, se aprenderá a voar pela vida, aproveitando toda a maravilha que ela tem para oferecer.
Fonte: Trecho do livro “Preciso dizer o que sinto, de Eugênio Mussak – Integrare Editora