Sentir raiva não é sentir algo que o meio nos oferece. Sentir raiva é processar o estímulo ambiental. A raiva está dentro, não fora. Não é como sal, que já está na comida e eu percebo com a língua. É a reação, não o estímulo. A raiva é, portanto, um sentimento derivado da interpretação que fazemos de um acontecimento externo. E a interpretação será condicionada pelo estado psicológico naquele instante, ou naquela fase da vida. A mesma causa pode gerar raiva em um momento, compreensão em outro e, ainda, compaixão em um terceiro. Sentimentos são interpretações das causas, não as causas em si.
Não há nada de errado em sentir raiva em determinadas situações; errado seria não sentir nada. A raiva nem sequer é o oposto do amor; o oposto do amor é a indiferença. Diante da injustiça, do desrespeito, da maldade, do descaso, o que se espera é a raiva. Se alguém lhe ofender de propósito, você sentirá raiva, ou não será uma pessoa normal. Seu grau de evolução espiritual não será, absolutamente, medido pelo sentimento da raiva, e sim pelo que você fizer com ele. Ao responder à causa da raiva com uma causa igual, ou maior, você estará fazendo exatamente o que o outro espera de você — entrando no jogo. Se, ao ser ofendido, você sentir raiva, processar o sentimento, racionalizar os componentes da situação e escolher a melhor resposta para aquele momento, então você estará no controle.
Fonte: livro “Caminhos da Mudança”, de Eugenio Mussak – Integrare Editora