O corpo feminino, suas dores, prazeres e mistérios

abril 6, 2011

A mulher é o seu corpo. O sexo feminino não estabelece distância entre o órgão sexual e o resto do organismo. Este corpo guarda o mistério que envolve a dor da mulher.

Desde pequenas, as mulheres cuidam com delicadeza de toda a área corporal. Constroem um extenso mapa erógeno, que inclui pés, pernas, coxas, barriga, mãos, braços, ombros, seios, boca e cabelos. A vagina é apenas um dos pontos desse grande mapa.

O homem genitaliza a sexualidade. Oferece amor, mas quer sexo. A mulher romantiza e espiritualiza o sexo; o homem sexualiza o amor. Prefere os toques enérgicos, as brincadeiras de chutes, socos e lutas. Cuida dos músculos e, sobretudo, do pênis. A visibilidade do genital masculino é uma das origens do seu desejo científico de objetividade, de teste externo, ratificação e prova.

A mulher é velada. O mistério envolve sua sexualidade. O corpo feminino tem uma célula da noite arcaica. É um lugar secreto e sagrado. A mulher é um vaso lacrado, um santuário. Tudo o que é sagrado suscita a profanação.

Os espermatozoides são tropas de assalto em miniatura, e o óvulo, uma cidadela a ser invadida. Os fracos não alcançam seu alvo. A natureza premia a energia e a agressão. O homem se inquieta diante do insuportável mistério do corpo feminino: “que aparência terá lá dentro?”, “ela tem orgasmo?”, “é mesmo meu filho?”. O tabu a respeito do corpo feminino é o tabu que paira sobre os lugares mágicos.

Esses sentidos misteriosos não podem ser mudados, apenas suprimidos. Mas emergem na consciência cultural. Nada se pode fazer contra o feminino. Matem a imaginação, lobotomizem o cérebro, castrem e operem, e aí os sexos serão iguais.

Nascemos macho e fêmea no sentido biológico, identificamo-nos como feminino e masculino no psicológico e nos tornamos homem e mulher no social.

E somente somos iguais na essência do humano.

Fonte: “Mulher – Um projeto sem data de validade”, de Malcolm Montgomery – Integrare Editora