Pais: merecem, mas não recebem gratidão. De quem é a culpa? Por Içami Tiba

Antes de sair para o trabalho, um homem de meia-idade coloca o pai dele, um velhinho de 90 anos, para tomar um pouco de sol. Ao voltar para casa no fim do dia, porém, percebe que aquele senhor idoso permaneceu no mesmo lugar, passando frio e no escuro. Esqueceram de guardar o idoso! Atônito, ele cobra dos filhos, netos desse senhor:

 

– Vocês se esqueceram de guardar o vovô!

 

            E, dirigindo-se a qualquer um deles, ordena: “Vai tirar o vovô do frio!”. Em resposta, imediatamente, um neto diz para o outro: “Eu tirei ontem. Agora, vai você!”.

 

 

O que aconteceu nessa história? Por que um homem que se sacrificou tanto pelos filhos tem de ser vítima de um jogo de empurra-empurra? Ele foi um mau pai? Ele maltratou os netos? Por que os netos não cuidam do avô?

            O pai lhes deu muito amor, proveu em tudo, perdoou. Mas não usou o lema “Quem Ama, Educa”. Ou seja, esses jovens não foram educados. Ele deu tudo do bom e do melhor para os filhos, mas não aplicou o amor que exige, a meritocracia, a cidadania familiar. Em suma, não agiu de modo que eles cumprissem com suas obrigações. Fez tudo pelos filhos e para que eles fossem felizes – só que felicidade à custa dos outros não dá autonomia, não é independência. E quem não tem autonomia nem independência não pode ser feliz.

            Será que é isso que os pais querem na velhice? Ser um empecilho, um incômodo para os filhos e netos? Não! Pais idosos merecem receber gratidão por tudo o que fizeram pelos filhos e netos, principalmente quando precisam de cuidados! Pois é hora de arregaçar as mangas: filho que merece ganha regalias. Aquele que não merece vai ter de se esforçar.

          Os pais não podem ter pruridos para colocar em prática a meritocracia – é essa a porção de amor que ficou faltando para esses jovens. Quando eles nasceram, ganharam um amor dadivoso, gratuito. Não tinham mérito nenhum para recebê-lo, mas ganharam simplesmente porque são filhos.

            Quando tiveram idade para aprender, passaram a necessitar de outro tipo de afeto – o amor que ensina. Porém, toda vez que não colocaram em prática os ensinamentos que estavam recebendo, foram poupados do amor que exige – ou seja, os pais optaram por ensinar outra vez o que já haviam ensinado quando deveriam ter exigido que fizessem o que lhes fora ensinado.

          Na época, os pais nem percebiam que estavam errando, talvez até pensassem que estivessem fazendo o melhor possível repetindo o ensinamento. A atitude de ensinar outra vez sem que o filho tente fazer o que aprendeu é negar a primeira lição, é não passar da primeira fase do aprendizado. Isso porque, ao ser exigida, a criança descobre na ação a sua responsabilidade. Quem nada faz, por nada responde. Promessas podem ser lançadas ao vento e palavras não supõem responsabilidade. O que realmente possui mérito é a ação prática, são os resultados.

 

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Fonte: livro “Pais e Educadores de Alta Performance”, de Içami Tiba – Integrare Editora

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